Fundos de Venture Capital crescem 17% enquanto Private Equity recua 44% em 2024 no Brasil
Em 2024, o mercado brasileiro de investimentos alternativos — que engloba venture capital (VC), private equity (PE) e corporate venture capital (CVC) — apresentou desigual comportamento: enquanto o VC mostrou recuperação, o PE enfrentou queda significativa. Os dados da ABVCAP (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) em conjunto com a TTR Data, apontam para um cenário de transição que traça expectativas para o setor em 2025.
Retomada do Venture Capital
O investimento em venture capital somou R$ 9 bilhões em 2024, representando um avanço de 17% em comparação aos R$ 7,7 bilhões de 2023.
A recuperação foi puxada por operações de maior valor, apesar da redução expressiva no número de rodadas: caíram de 228 para 123, uma retração de 46%.
Isso indica uma maturação do mercado, com seleção mais criteriosa de startups e valorização de negócios sólidos com product-market fit.
O crescimento no 4º trimestre foi particularmente expressivo: os aportes passaram de R$ 2,2 bilhões em 2023 para R$ 3,5 bilhões em 2024 — um salto de 59%.
Entre as maiores captações, destacaram-se:
- Asaas, fintech responsável pelo maior aporte de VC no ano (R$ 820 milhões);
- Tractian (R$ 700 milhões);
- JusBrasil (R$ 500 milhões)
A segmentação de setores com maior volume incluiu serviços financeiros, segundo levantamento da ABVCAP e TTR.
Crescimento do Corporate Venture Capital
O segmento de CVC, no qual grandes empresas investem em startups, registrou crescimento de 36%, totalizando R$ 3,5 bilhões em 2024 — um salto em relação a 2023.
Grandes empresas como Microsoft (por meio da Microsoft for Startups) financiaram iniciativas relevantes, como:
- Blip, recebendo R$ 344,9 milhões;
- Agrolend, com aporte de R$ 300 milhões;
- Shopper, captando R$ 150 milhões do iFood.
Private Equity sob pressão
Em contraste, o setor de private equity, voltado para empresas maduras ou em expansão, recuou 44% em volume, ficando em R$ 13,3 bilhões — queda acentuada frente aos R$ 23,9 bilhões de 2023.
No 4º trimestre, houve retração de 51%, de R$ 9,8 bilhões em 2023 para R$ 4,8 bilhões em 2024. A quantidade de operações caiu de 84 para 70, uma diminuição de 17%.
Algumas transações de grande porte incluíram:
- Aquisição da EDP Transmissão Aliança SC pela Actis (R$ 2,13 bilhões);
- Aquisição da Bloom Participações pela Vinci Capital Partners (R$ 1,37 bilhão).
Explicando a dinâmica oposta
A disparidade nos desempenhos tem origem em fatores macroeconômicos:
- A taxa Selic acima de 10% por quase quatro anos reduziu o apetite por risco e elevou o custo de capital.
- Operações de VC, por outro lado, foram impulsionadas por startups adaptadas a modelos mais enxutos e sólidos — com maturidade suficiente para atrair fundos mesmo em ambiente restritivo.
A exigência por diligência e planos robustos também levou a uma seleção acentuada, mantendo o volume mas reduzindo o número de rodadas .
V. Previsões para 2025: Otimismo com cautela
Olhando para 2025, especialistas sinalizam:
- Continuidade na retomada do VC, apesar da seletividade;
- A COP30 no Brasil pode estimular aportes em startups ligadas a ESG e tecnologia climática
- O CVC manterá expansão, promovendo sinergia entre corporações e inovação disruptiva.
Já o Private Equity deve permanecer contido, dependendo do ambiente político-econômico e da confiança quanto a valuations e saídas (M&A ou IPOs) .
Relevância estratégica
Os avanços do VC e CVC mostram que o Brasil consolidou um nível maior de maturidade em seu ecossistema de startups — não apenas em volume, mas em qualidade operacional. Já o recuo do PE reflete o ciclo econômico, no qual bens estruturados demandam condições macro mais estáveis para novas injeções.
A coordenação entre políticas públicas, segurança jurídica e fundos sintonizados com setores como fintechs, agritech e cleantech será determinante para a virada do PE em 2026.