Aumenta tributo sobre fintechs: impacto na inclusão e custo financeiro
Em junho de 2025, o governo federal propôs um ajuste no regime tributário das fintechs que tem gerado forte repercussão no setor financeiro e no debate público: o aumento da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), reduzindo a alíquota mais baixa de 9% e elevando-a para 15% ou 20%, alinhando as fintechs com bancos de porte médio. A medida veio como compensação à revisão do aumento do IOF, suspendendo discussões sobre o decreto anterior.
Da proposta ao impacto imediato
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, oficializou a medida em anúncio público, dizendo que a intenção é equalizar com o regime tributário das instituições financeiras tradicionais. Fintechs até então pagavam entre 9% e 20%, variando conforme o porte e o tipo de serviço. Com o novo modelo, a alíquota mínima de 9% será extinta, obrigando-as a pagar ao menos 15%.
A proposta integra um pacote mais amplo que visa compensar a redução da arrecadação prevista com o recuo do IOF (“risco sacado”), mas gerou críticas por ter sido apresentada sem diálogo prévio com as empresas de tecnologia financeira. Fintechs, startups e associações afirmam que o setor não foi consultado.
Reação das entidades representativas
Associações como ABFintechs e Zetta, que reúnem grandes nomes do setor como Nubank, Mercado Pago, PicPay e Creditas, reagiram com veemência. Em carta aberta, elas alertaram que o aumento da CSLL ameaça a dinâmica competitiva conquistada nos últimos anos, prejudicando modelos voltados à inclusão.
Segundo Eduardo Lopes, presidente da Zetta, as fintechs usam a alíquota reduzida para operar com contas gratuitas, menor burocracia e acesso a crédito para camadas mais vulneráveis. Subir a CSLL pode significar:
- Aumento de tarifas (manutenção de conta, saque etc.)
- Redução de contagem gratuita ou limitação de ofertas gratuitas
- Corte de suporte a públicos de menor renda.
Impactos econômicos e sociais
O impacto vai além das fintechs: estima-se que a inclusão financeira poderia retroceder. Projeções da Zetta apontam que o segmento aumentou o acesso aos serviços financeiros de 119 milhões em 2012 para 175 milhões em 2024. Um aumento da carga tributária pode reduzir o acesso geral, especialmente em áreas de crédito pessoal e digital.
Especialistas alertam que isso também pressiona a competição — bancos grandes ficam relativamente menos afetados, enquanto pequenas fintechs perdem competitividade num mercado já consolidado. Guilherme Almeida, da Suno Research, diz que a medida pode levar a uma reversão parcial no ganho de participação de mercado obtido em anos recentes.
Competitividade e desigualdade tributária
Um dos argumentos centrais das fintechs é que o tratamento tributário original já considerava a estrutura inferior, menor acesso a benefícios fiscais e uso de modelos operacionais diferentes dos bancos. A equiparação das alíquotas desconsidera essas diferenças e sobrecarrega empresas menores que não têm as mesmas vantagens tributárias nem capacidade de compensar perdas.
Além disso, a maioria das fintechs usava o regime de lucro presumido, gerando tributação proporcionalmente maior do que a observada em bancos que operam sob lucro real, com acesso a mecanismos de compensação e créditos fiscais.
Debate político e cenário legislativo
Após a repercussão negativa, o setor aguarda articulações no Congresso para barrar ou ajustar a proposta. Fintechs pretendem negociar prazos, faixas intermediárias ou compensações via benefícios fiscais ou regime diferenciados, como alíquota escalonada ou redutor em investimentos sociais/agregação tecnológica.
Enquanto isso, líderes bancários também entraram no debate. Alguns defendem o aumento de tributação para equilibrar a concorrência, mas a forte mobilização de startups torna possível uma reação mais ampla no Parlamento .
Possíveis ajustes futuros
Há propostas para:
- Introduzir faixa intermediária, como 12% ou 13%;
- Conceder redução para fintechs que atuem em inclusão ou crédito para pequenas empresas;
- Garantias de que os custos tributários não sejam repassados aos clientes, como contrapartida para manter contas e serviços gratuitos.
Essas alternativas buscam amenizar os impactos negativos previstos.
Avaliação de longo prazo
No curto prazo, o aumento da CSLL deverá pressionar margens e impor ajustes nos modelos de negócios das fintechs. A longo prazo, sem reformas estruturais — como mudanças na tributação ou mecanismos sustentáveis de subsídio —, pode haver concentração no setor e redução da inovação.
Conclusão
A proposta de elevar a CSLL tem efeitos imediatos: redução de atratividade dos serviços financeiros digitais, aumento de tarifas e risco de perda na inclusão econômica. O peso maior recai sobre fintechs menores, que vieram promovendo competitividade.
O desafio agora é encontrar um equilíbrio: permitir que as fintechs mantenham seu papel de agentes de inclusão e inovação — enquanto o governo busca compensar o recuo de receitas via IOF. O sucesso dependerá da capacidade do Legislativo em propor regimes diferenciados, incentivos e regras que preservem a arquitetura competitiva do setor financeiro.