Brasil: inflação desacelera, expectativa de crescimento sobe e mercado ajusta previsões para 2025
Em meio a um cenário global de juros elevados e incertezas, o Brasil começou a mostrar sinais de equilíbrio macroeconômico em junho de 2025. Os dados do IBGE e do Boletim Focus revelam que a inflação permanece acima da meta, mas segue em desaceleração, enquanto os economistas ajustaram para cima suas estimativas de crescimento do PIB, sinalizando otimismo cauteloso.
IPCA em baixa, mas ainda pressionado
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou alta de 0,26% em maio — uma desaceleração em relação aos 0,43% de abril — resultando em uma taxa acumulada de 5,32% em 12 meses, ainda acima da faixa de tolerância do Banco Central (3% ± 1,5).
A retração nos preços de transporte, devido à queda de tarifas aéreas e combustíveis, foi o principal destaque de comportamento positivo.
Perspectivas do mercado
Na pesquisa semanal do Banco Central — o Boletim Focus — os analistas reduziram levemente a projeção para a inflação em 2025, de 5,46% para 5,44%, ao mesmo tempo em que elevaram a expectativa do PIB para 2,18% (era 2,13%). Já o dólar deve encerrar o ano em torno de R$ 5,80 a R$ 5,82, com a Selic permanecendo em 14,75% ao ano até o fim de 2026, e recuando gradualmente para 12,5% em 2027.
Análise do crescimento econômico
O IBC-Br, prévia mensal do PIB do Banco Central, apontou crescimento de 1,3% no primeiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior — e alta de 3,7% frente ao mesmo período de 2024. Esse bom desempenho reforçou o otimismo, levando o governo a elevar a projeção de crescimento oficial do PIB para 2,4% em 2025, ante 2,3% anteriormente — decisão ratificada por fontes do Ministério da Economia.
Confluência de fatores
O crescimento no início do ano foi impulsionado principalmente pela expansão agrícola, com destaque para os recordes de safra de soja e exportações robustas – mesmo assim, há receio sobre o impacto dos juros elevados e possíveis choques externos. Em paralelo, a inflação segue com moderada trajetória de alta, reforçando a necessidade de política monetária restritiva por parte do Banco Central – que sinaliza ter encerrado ciclo de alta na Selic.
Projeções divergentes
O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta crescimento de 2,3% para 2025, com inflação média de 5,2% — acima da meta, mas mostrando desaceleração futura. Já a pesquisa Reuters junto a economistas prevê um PIB em torno de 2,0%, com o segundo semestre apontando desaceleração por conta da política de juros e tensões no comércio global.
Indícios de pressão no futuro
A elevação prolongada da Selic — atualmente no patamar mais alto dos últimos 20 anos em 14,75% — deve continuar a conter a inflação, porém com impacto direto sobre o investimento privado, consumo e produção industrial . O mercado avalia que a economia caminhará rumo a um crescimento mais moderado no segundo semestre.
Avaliação do setor produtivo
Setores sensíveis a juros, como automotivo, varejo e construção, já registraram sinais de desaquecimento. Por outro lado, a agroindústria segue firme, sustentando o PIB e gerando receitas com câmbio favorável. Para especialistas, o desafio será equilibrar prazo de juros alto e manutenção do crescimento, criando condições para ajustamento sem retorno súbito da inflação rumo à meta central.
Cenário fiscal e político
Com a economia em ritmo moderado e inflação descendo lentamente, a equipe econômica mira a reforma tributária, controle de gastos e ajustes fiscais como peças centrais para elevar o potencial de crescimento de longo prazo. As incertezas políticas — que podem afetar a confiança dos investidores — são tratadas como riscos adicionais caso o governo avance sobre despesas obrigatórias ou aumento de impostos.
Conclusão
As perspectivas para 2025 mostram um cenário de transição: inflação sob controle gradual, economia em crescimento moderado e juros em patamares acima do ciclo usual. O grande desafio para os próximos meses será evitar um desaquecimento abrupto, garantindo condições para retomar o crescimento real sem pressurizar os preços — numa equação delicada, que exigirá precisão nas políticas monetária, fiscal e estrutural.