Fusões e aquisições no agronegócio disparam 140 % em 2024

Fusões e aquisições no agronegócio disparam 140 % em 2024

Em 2024, o agronegócio brasileiro atingiu um patamar recorde de fusões e aquisições (M&A), sinalizando forte dinamismo e consolidação no setor. Segundo dados da KPMG e divulgados por veículos de imprensa, foram concluídas 12 transações no setor, um aumento expressivo de 140 % em relação a 2023, quando apenas cinco operações foram registradas.

Panorama geral e comparação histórica

O número de fusões no agro em 2024 foi o maior em cinco anos, superando inclusive anos anteriores que já tinham apresentado crescimento. Comparativamente, em 2021 e 2022 registraram-se nove negócios por ano, enquanto 2023 ficou com apenas cinco. Isso demonstra uma aceleração significativa em 2024 — tanto em frequência quanto em magnitude dos investimentos.

Ao total, considerando todos os setores, o Brasil registrou 1 582 M&As, alta de cerca de 5 % em relação a 2023.

Setores em destaque

As fusões ocorreram majoritariamente em dois segmentos: sucroalcooleiro e fertilizantes. O aumento expressivo nessas áreas é explicado pelo elevado custo de capital e pela demanda global por biocombustíveis e insumos agrícolas.

Principais transações e players envolvidos

Entre as operações mais relevantes:

  • BP adquiriu 50% da joint venture com a Bunge (BP Bunge Bioenergia) em junho de 2024, consolidando presença no mercado de biocombustíveis.
  • A gestora Aqua Capital comprou a Solubio, especializada em agricultura regenerativa, por aproximadamente R$ 100 milhões.
  • A israelense ICL adquiriu a brasileira Nitro 1000, focada em fertilizantes especiais, por cerca de US$ 30 milhões.
  • A Agrogalaxy aumentou sua participação na Agrocat, subindo de 80 % para 90 % de controle.

Verticalização e estratégia de crescimento

Essas operações refletem uma estratégia clara: buscar escala, eficiência e diversificação. A entrada de capital estrangeiro — por meio de aquisições e joint ventures — reforça a conectividade internacional do agro brasileiro e a segurança de fornecimento global.

Além disso, a consolidação de players locais, como a Agrogalaxy, indica tentativa de fortalecimento de cadeias produtivas e aumento da competitividade regional.

Tipos de transações

Das 12 operações, a distribuição foi a seguinte.

  • 5 fusões entre empresas brasileiras;
  • 3 aquisições por empresas estrangeiras de companhias nacionais;
  • 3 vendas de empresas nacionais para japonesas;
  • 1 transação entre empresas inteiramente estrangeiras, mas que operam no Brasil.

Implicações no setor e efeitos macroeconômicos

O aumento das fusões no agro traz impacto direto no preço das commodities, na geração de empregos e na atração de tecnologia. Estas aquisições — principalmente nos segmentos de fertilizantes e biocombustíveis — trazem investimentos em inovação, logística e sustentabilidade.

O crescimento no número de M&As também favorece o fortalecimento das cadeias de produção, reduzindo riscos operacionais e assegurando maior poder de negociação frente a compradores e financiadores.

Além disso, a estabilidade e o crescimento do número total de M&As no Brasil sinalizam maturidade do mercado nacional frente à economia globalizada.

Perspectivas para 2025 e além

Os analistas esperam que esse movimento se torne um ciclo de consolidação. Espera-se:

  • Aquisições e fusões envolvendo startups rurais de smart agriculture e bioinsumos;
  • Ampliação dos investimentos em ESG (Environmental, Social and Governance) no campo, principalmente após parcerias como a da Solubio;
  • Novos entrantes internacionais em nichos como fertilizantes especializados, logística verde e agroenergia.

A contínua atratividade de ativos brasileiros está favorecendo esse movimento — especialmente diante de um ambiente global de busca por segurança energética e alimentar.

Principais desafios

Apesar do crescimento, existem desafios a serem enfrentados:

  • Burocracia e demora em aprovações;
  • Integração operacional pós-fusão;
  • Financiamento e custo de capital elevado;
  • Regulação ambiental e de terras.

A KPMG alerta que essas dificuldades exigem governança robusta e planejamento estratégico — o que, dentro da crise de fusões, aponta também a necessidade de assegurar compliance e responsabilidade social no setor.

Conclusão

O agronegócio brasileiro entra num novo patamar de maturidade estratégica, confirmado pelo recorde de M&As em 2024. As doze transações, com participação relevante de grandes investidores nacionais e internacionais, mostram uma clara orientação ao longo prazo, escala operacional e fortalecimento da soberania nacional em setores essenciais.

Com o mundo focado em sustentabilidade agrícola, demanda energética e segurança alimentar, o agro brasileiro tornou-se um protagonista global. As fusões e aquisições recentes podem ser vistas como um catalisador para tornar o país uma potência ainda mais sólida — desde que integrado com responsabilidade, inovação e visão estratégica.

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